quarta-feira, 22 de agosto de 2012

As mulheres da minha vida

Talvez tudo tenha começado por ela:Laura Ingalls Wilder.
Ganhei o primeiro livro aos 9 anos. Apaixonei! decorei trechos, costurei uma boneca de pano e chamei de Carlota, fiz casas de papel , 
bonecas de papel para brincar de Laura! Até hoje a releio, apaixonada, descobrindo detalhes, estilos, receitas. Sempre uma nova leitura.

Não, talvez ela não tenha sido a primeira mulher, certamente não. Certamente foi a brasileiríssima Magdalena Lea que aí estána foto  apaixonada! Poetiza, escrevia deliciosoversos rimados os quais eu decorava com gulodice e me exibia por aniversários infantis. É, eu tinha 3 anos mas ainda  hoje ao declamar a "História Triste" nas escolas  que adotam meus livros, Magdalena Lea  faz sucesso. Acho que muito da minha escrita vem dela.
Ou será dessa francesa nobre? Condessa de Segur com suas meninas exemplares, com os desastres de Sofia, certamente uma auto-crítica fantástica, e com o predileto Fortuna de Gaspar?
Não, a autora que mais me acompanhou antes de eu conhecer Laura Ingalls foi a brasileira senhora Leandro Dupré. Assim, maria José , usando o nome do marido francês, me deu Vera Lucia Pingo e Pipoca  e o excelente Mina de Ouro que certamente lerei em voz alta para meus futuros netos, do jeito que fiz com meus filhos, Ah! que aventura maravilhosa! Mas não gostei de seus livros adultos. Me faziam sofrer.
Ainda, apesar de ter lido um único livro seu, ou seu único livro? Helena Morley me encantou com Sua Vida de Menina. 




Bem, mas aí eu conheci Louisa May Alcoot e LauraIngalls começou a ter uma rival: As mulherzinhas! Eu me via como Jô, com sua mania por leitura e escrita e seu jeito pouco feminino de ser. Por outro lado, me via como Amy, implicando com seu nariz e sempre com seus lápis , pincéis e blocos de desenho. Achava que Meg era o retrato literário de minha irmã mais velha, vaidosa com seus cabelos e roupas. E hoje, seus livros e bonecas e casinha de papel dividem a estante com as coisas de Laura Ingalls.Mas nem só de romance vive uma menina! E viva a grandíssima Agatha Christie!
 
Com este olhar inteligente, Agatha  me encheu de aventuras, mistérios e bolinhos. Ah! que delícia são os chás de Agatha! E olhe  eu não gosto lá muito de chá! Mas ela faz a descrição com tal aroma e pertinência, que abandono o livro e preparo um tender leaf insosso.

E a gente cresce e lê de tudo. Lê coisas maravilhosas, inteligentíssimas, importantíssimas que nos faz sermos tido como pessoas de grande erudição. Mas, na hora de levar para a Ilha deserta, são outros os chamados. Por melhor que seja caviar, ninguém aguenta comê-lo diariamente. O lance é  o muito bem feito arroz com feijão.
E aí , vou encontrando outras mulheres maravilhosas e suas letras voadoras. A poesia de Dorothy Parker, A fantasia de Laura Escorel, e ah.. a rainha, a fantástica Isabel Allende!

Que mundo maravilhoso que nos dá essas mulheres incríveis!

Bem, mas eu também desenho. E como a maioria das mulheres cariocas da minha geração, fui fascinada por Gladys e seus bichinhos. Que mágica! Ao vivo, na TV preto e branca, com grandes papéis pendurados como em varal de roupa, Gladys ia contando uma história sobre um sapo Godofredo e o desenhava, bêbado, agarrado a uma margarida como se fosse um poste , ou sei lá mais o quê. Nada era politicamente correto, creio. Mas seus traços apareciam redondos sobre os papéis, rápidos, expressivos!

E os coel
hos de Beatrix Potter, fofos , surgiam nos dias de Páscoa em traços azuis  para serem coloridos por nós , meninas de colégio de freiras que desconhecíamos Beatrix Potter mas as freiras se encubiam de nos encher o imaginário com maravilhoso coelhos além dos santinhos com purpurina e nuvens cor de rosa.

E , então, aos 
12 anos, acho, fui ao MAM e conheci Tarsila do Amaral. Meu queixo caiu. Era isso o que eu queria na vida! aquelas formas, as cores, os contornos. Era assim que eu queria desenhar!

Hoje, aos 55 anos, são essas as amigas que me fazem companhia, que me aconselham e me maravilham.

Como é bom ter amigas  assim!